sábado, 3 de novembro de 2012

Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro 2012


Depois de muito esforço, trabalho e dedicação, que tornaram altamente difícil a escolha dos textos finalistas, dada a excelência na qualidade de suas produções, mérito da equipe escolar e de todos os alunos empenhados nesse processo, é com muita honra que publico os textos vencedores da Etapa Escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa, realizada na EMEF Péricles Eugênio da Silva Ramos,   para as 4ª séries (Fund I) e 5ª séries (Fund II) na categoria "poema" e para as 8ª séries (Fund II) na categoria "crônica".

Com maior honra e alegria, faço saber que o texto da aluna Ingrid Spinola dos Santos (8ª A),  foi classificado na Etapa Municipal e na Etapa Estadual e está concorrendo agora na Etapa Regional. Estaremos lutando, de 05 a 07/11/2012, em Natal (RN), para estarmos na grande final!!! 
Com igual honra, informo que o texto do aluno Henrique Dias da Silva (4ª A) obteve a mesma classificação e buscaremos uma vaga na final durante durante o período de 20 a 22/11/2012, em Fortaleza (CE).

Torçam por nós!!!

Parabenizo também todos os alunos que, mesmo não tendo sido classificados, superaram-se em suas produções.



Sábado à noite é de Heliópolis

Por Ingrid Spinola dos Santos


Moro em Heliópolis e me orgulho disso, do meu bairro do sol, tem seus defeitos, como qualquer outro, mas tem também suas grandes qualidades. O "Helipa", como nós íntimos o chamamos, pode ser um bairro de tráfico, das drogas, das crianças que morrem precocemente, mas também é um bairro de povo feliz, que tem samba no pé, que sonha com a paz e luta por ela, o bairro de crianças que jogam futebol descalças na rua e de pessoas que saem de casa em busca de uma vida melhor. É um Heliópolis de brasileiros que não desistem fácil, filho do Ipiranga, terra mãe dos vencedores.
Esses dias, em um sábado, fui com meu pai comer no "Mec Favela", uma lanchonete bastante movimentada do Helipa. Era um lugar pequeno e comum, com as paredes já amarelas com o tempo, e de mesinhas de madeira. O lugar estava cheio. Meu pai e eu sentamos em uma mesa de quatro pessoas, a única que sobrara. "Uma coxinha e dois pasteis". O olhar perdido nos arredores, aguardando o pedido. Em uma mesa um pouco distante da nossa, uma mulher com três crianças bem arrumadas. Ao lado, dois homens com roupa de mecânico e duas mulheres com vestidos super colados. No resto das mesas só tinham pessoas que não chamavam muito a atenção. Assim que nosso lanche chegou, entrou na lanchonete uma moça muito bonita, mas o que mais me chamou a atenção é que ela trazia na mão um violino. Vendo os únicos lugares vazios (que eram os da nossa mesa), a moça veio diretamente em nossa direção. Em um tom educado, perguntou:
- Será que eu poderia me sentar aqui?
- Fique à vontade! - respondeu meu pai.
Assim ela se sentou... e comecei a observá-la. Ela era morena e tinha os cabelos lisos e brilhantes em um corte chanel, era alta, esguia, vestia um jeans com uma camiseta branca. Logo depois de um chute no estilo "acorda, menina!", parei de encarar a moça e olhei o seu violino, que ela tinha colocado delicadamente na cadeira da frente. Ele era lindo, nunca tinha visto um de perto! Ela percebeu meu olhar e perguntou:
- Sabe tocar?
- Eu... eu não! - disse sem jeito -Mas você sabe. Não era uma pergunta, era uma afirmação. Deduzi isso porque ninguém "normal" sai andando com um violino na mão sendo que não sabe tocar. Ela sorriu gentilmente e fez que sim com a cabeça. Tique que sorrir também. Então ela disse:
- Conhece o Baccarelli?
- Não! - meu pai respondeu se intrometendo.
- Sim! - respondi, confundindo a moça. O Baccarelli tinha se apresentado uma vez na minha escola, um coral de crianças, e foi lindo. Então comecei a lembrar do dia e das músicas alegres que as crianças tinham cantado. E interrompendo os meus pensamentos, a moça disse:
- O Baccarelli é uma instituição que foi criada em 2005. É uma escola de música que foi criada pelo maestro Silvio Baccarelli. A escola tem mais de 1.100 alunos - e parou para agradecer seu lanche - os mais velhos tocam instrumentos e os mais novos treinam músicas no coral.
- Ah, é claro, já ouvi falar! - disse meu pai, surpreendido.
- O Baccarelli não é só uma ONG, é muito mais que isso! É a vitória de muita gente, a prova de que na favela se tem muito mais do que gente drogada. O Baccarelli tira crianças das ruas para mostrar-lhes a beleza da música... e em suas notas, o caminho certo a seguir.
Assim todos nós ficamos em silêncio para a moça comer. Vi que meu pai tinha encerrado o assunto, mas eu sou uma pessoa curiosa e quis saber mais. Então perguntei:
- Já tocou em algum lugar que jamais irá se esquecer? - disse, levando outro chute de reprovação.
- Sim - respondeu a moça, sorrindo. Vi nos seus olhos o orgulho. - Na Sala São Paulo, em um sábado à noite...
- Está brincando! - disse meu pai - Essa é uma das melhores do país! Ainda mais em um sábado! Como foi?
- Sim, é sim. Foi mágico, sonho com ela toda noite - respondeu - O melhor foi voltar pra casa e ver o sorriso de todos, o rosto cheio de orgulho. Saímos da realidade, meu pai e eu, pensando em como pessoas que eram excluídas da sociedade só por viver em uma favela podiam ser aplaudidas pelas mesmas pessoas que diziam que não éramos capazes... em pé ainda! E com lágrimas no rosto!
- Cadê a moça? - perguntei ao meu pai.
- Não sei, sumiu! Mas o fato é que sábado à noite é de Heliópolis! É nosso!


Heliópolis: o bairro do sol

Por Henrique Dias da Silva

O lugar onde vivo fica no Ipiranga
Onde "o sol da liberdade em raios fúlgidos
brilhou no céu da pátria nesse instante"
Isso eu descobri em um livro que estava na estante!
Pra quem está de fora o meu bairro não é muito amado,
Também não é bem falado,
Quando se fala em Nova Heliópolis
Todo mundo fica abismado!
Pensam logo em tráfico de drogas, funk, RAP,
Ataques do PCC e polícia com cacetete!
Aqui tem muita violência e também pessoa boas que com isso não tem nada,
Por isso todo ano fazemos pela Paz uma Caminhada.
É homenagem pra uma menina (se chamava Leonarda)
que com cinco tiros na porta da escola foi assassinada!
Mas a beleza existe pra quem consegue ver,
Pode ser eu e pode ser você!
Quando abro a minha janela
vejo o colorido da favela,
formando um mosaico que poderia estar numa tela
em um museu de arte moderna!
Uma imagem ainda mais bela
é formada pelos meninos que jogam bola na viela
É pra lá que eu vou,
formar meu time e fazer gol!
Aqui também tem o Instituto Baccarelli
Joia da nossa comunidade,
cujo coração é regido
por Beethoven, Mozart e Wagner!
É nessa orquestra em que toco,
lá tem piano, viola e violino
mas meu instrumento é o contra-baixo,
minha paixão de menino!
E entre tantos "et ceteras"
também tem grandes festas
No Ano Novo é uma maravilha
Todos comemorando com suas famílias!
Em dia de jogo é pior...
quero dizer, é muito melhor!
Fogos de artifícios para todos os lados
Fogos amarelos, azuis, vermelhos e dourados
Nessas horas, em meio a esse rol
É que lembro do significado do lugar onde moro:
Heliópolis, o bairro do sol!
É tão sensacional!
O lugar onde moro
Está no hino nacional!




segunda-feira, 23 de julho de 2012

FODA-SE


( Millor Fernandes )

O nível de stress de uma pessoa
é inversamente proporcional
a quantidade de
foda-se!
que ela fala.

Existe algo mais libertário
do que o conceito do
foda-se!?
O foda-se!
aumenta minha auto-estima,
me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Me liberta.
- Não quer sair comigo ?
Então foda-se!

- Vai querer decidir essa merda
sozinho (a) mesmo?
Então foda-se!.

O direito ao foda-se!
deveria estar assegurado
na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso.
São recursos extremamente válidos e criativos
para prover nosso vocabulário
de expressões que traduzem
com a maior fidelidade
nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar,
será esse Português Vulgar
que vingará plenamente um dia.

Pra caralho, por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a idéia
de muita quantidade do que
Prá caralho?

Pra caralho
tende ao infinito,
é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas
pra caralho,
o Sol é quente
prá caralho,
o universo é antigo
pra caralho,
eu gosto de cerveja
pra caralho,
entende?

No gênero do Prá caralho,
mas, no caso, expressando
a mais absoluta negação,
está o famoso
Nem fodendo!.

O Não, não é não! e tampouco
o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade. Não,
absolutamente não! o substituem.
O Nem fodendo
é irretorquível, e liquida o assunto.

Te libera, com a consciência tranqüila,
para outras atividades
de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos
te atormenta pedindo o carro
pra ir surfar no litoral?
Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo:
Marquinhos presta atenção, filho querido,
Nem fodendo!.

O impertinente se manca na hora!

Por sua vez,
o porra nenhuma!
atendeu tão plenamente as situações
onde nosso ego exigia
não só a definição de uma negação,
mas também o justo escárnio
contra descarados blefes,
que hoje é totalmente impossível imaginar
que possamos viver sem ele
em nosso cotidiano profissional:
ele redigiu aquele relatório sozinho
porra nenhuma!.

O porra nenhuma,
como vocês podem ver,
nos provê sensações
de incrível bem estar interior.
É como se estivéssemos
fazendo a tardia e justa denúncia pública
de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos
aspone, chepone, repone
e mais recentemente, o prepone
- presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um
Puta-que-pariu!,
ou seu correlato
Puta-que-o-pariu!,
falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer
puta-que-o-pariu!
Dito assim te coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios têm o devido tempo e clima
para se reorganizar e sacar a atitude
que lhe permitirá dar um merecido troco
ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso
vai tomar no cu!?
E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai
tomar no olho do seu cu!.

Você já imaginou o bem
que alguém faz a si próprio
e aos seus quando,
passado o limite do suportável,
se dirige ao canalha de seu interlocutor
e solta:

Chega!
Vai tomar no olho do seu cu!.
Pronto,
você retomou as rédeas de sua vida,
sua auto-estima.
Desabotoa a camisa e sai a rua,
vento batendo na face,
olhar firme, cabeça erguida,
um delicioso sorriso de vitória
e renovado amor íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto
não registrar aqui
a expressão de maior poder de definição
do Português Vulgar:
Fodeu!.
E sua derivação mais avassaladora ainda:
Fodeu de vez!.

Você conhece definição mais exata,
pungente e arrasadora
para uma situação
que atingiu o grau máximo imaginável
de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida
insere seu autor
em todo um providencial contexto interior
de alerta e autodefesa.
Algo assim como quando você está dirigindo bêbado,
sem documentos do carro
e sem carteira de habilitação
e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:
O que você fala?
Fodeu de vez!.

Liberdade, igualdade, fraternidade e
foda-se!!!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sobre a inclusão do gênero "CRÔNICA" na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro


Pela primeira vez, em 2010, a crônica foi incluída entre
os gêneros textuais que fazem parte da Olimpíada de Língua
Portuguesa Escrevendo o Futuro.
Notícia ou texto literário? Por apresentar múltiplas facetas,
mais do que um gênero textual, a crônica traz um olhar
particular. Ao recortar cenas do cotidiano, o autor ilumina
situações, fatos, dando-lhes destaque, atribuindo-lhes um
novo sentido. O que poderia passar despercebido torna-se
encantador, envolvente, surpreendente, marcante.
Ao contrário do que parece, a criação de uma crônica não é
tarefa simples. Construir um sensível olhar pensante,
selecionando e amarrando os detalhes, é o primeiro passo
para elaborar um texto interessante que transporta o leitor
para a perspectiva do escritor.
Sensações, observações, lembranças e casualidades se
misturaram: nossos jovens cronistas identificaram personagens
pitorescos, construíram novos sentidos para experiências
cotidianas e passaram a valorizar o lugar onde vivem.
Os alunos aceitaram o desafio de trazer fragmentos da realidade
e do cotidiano para serem transformados em palavra escrita.
Ao ler essas crônicas, você terá a oportunidade de conhecer
um pouco do modo de ser e viver através das lentes de alunos
das escolas públicas brasileiras dos quatro cantos do país.

Leia os textos no link:
http://www.escrevendo.cenpec.org.br/images/stories/publico/noticias/20101201cronica.pdf