sexta-feira, 14 de junho de 2013

Nós contra o Batman

 Coisa bem difícil é falar do assunto dessa semana. Ética. Um dos temas mais esgotados para se tratar nos dias de hoje. Todo mundo acha que tem, todo mundo acha que sabe o que é. Dá medo ser apontado como aquele que não tem. Não temos aqui a pretensão de encompridar a lista de definições e abrangências do termo, pois o espaço é limitado, ainda menor que qualquer limitada pretensão de esgotar o tema. Usualmente se usa o termo com significado reduzido, comprimido por nossos conhecimentos parciais, ou enfaixado com as ataduras da exigência do momento. Ética como similar a honestidade. Ou simplesmente, boa conduta. ‘Vergonha na cara’, pra usar um termo muito brasileiro. Ou como sinônimo de moral.
Sempre se vê gente clamando pela volta das aulas de Educação Moral e Cívica, como se já tivéssemos sido uma sociedade melhor, no passado. Como se fôssemos uma sociedade em degeneração, perdendo valores que faziam sentido para nossos avós. Essa premissa pode desandar para uma série de generalidades indesejáveis. É compreensível que uma certa nostalgia por uma sociedade menos complexa possa ter espaço no imaginário coletivo, pois a análise do momento passado sempre se reveste de uma aura de amortecimento, como se todos os aspectos ruins fossem apagados, e somente nos lembrássemos dos bons aspectos. A defesa desse sentimento é algo difícil de sustentar. É fácil lembrar da liberdade da criança urbana poder andar de bicicleta no bairro em um passado recente, mas é igualmente fácil esquecer do trabalho infantil rural que era regra no país no mesmo período. A sociedade menos complexa de quem muita gente sente falta, na verdade era uma organização simplificada de sociedade, desigual e eventualmente perversa, onde direitos fundamentais ainda eram ignorados, diversidades eram obrigatoriamente aplainadas, e uma série de valores muito rígidos regia as relações na cidade, e quem não se enquadrasse, estava fora do eixo. O senso comum geria as decisões. Como ainda rege, temos que concordar. Melhoramos, mas falta muito.
No futuro, se tivermos sorte e estivermos na direção certa, fazendo o melhor possível neste exato momento, será este também o comentário sobre os tempos atuais, pois precisamos sempre avançar. ‘Mejor que ayer, peor que mañana’, diz mais ou menos assim o ditado espanhol. Estamos em constante evolução, em todos os aspectos. Há vinte anos, o cuidado com o meio ambiente inexistia. Há cinqüenta anos, grupos hoje considerados vulneráveis a assédio moral sofriam real risco de vida. Grupos que correm risco hoje serão livres no futuro. Avançamos muito, não só em nossas conquistas científicas e ampliação do conhecimento humano, mas estamos caminhando também na disponibilização deste conhecimento para benefício e conforto de um maior número de pessoas. Conhecimento gerando bem-estar. Educação gerando respeito. Ciência trazendo felicidade. Estes deveriam ser objetivos comuns. E podemos considerar que já são, pois ao menos o desconforto causado pela contrariedade a estes conceitos já é evidente. Mesmo quem não faz nada de concreto para uma melhora da ética como sintoma da evolução coletiva, sabe que é errado ser contra.
É possível ser razoavelmente otimista neste momento, ainda que as relações de conflito estejam ficando cada vez mais explícitas. Isso ocorre porque estamos atravessando tempos de distensão muito rápida, e reações são inevitáveis. Estamos aprendendo e ensinando continuamente.
Em vez de uma educação ‘Moral e Cívica’, antes tivéssemos sido todos educados com aulas de ‘Ética e Cidadania’. O conceito de Moral está associado a julgamento, e carrega uma carga pesada de reprovação a comportamentos variados, juntando toda e qualquer diversidade em um mesmo bolo. Um bolo pesado, sem fermento, e que a moral nos diz para não cortar. ‘Cívica’, por sua vez, seria muito bem substituída por ‘Cidadania’, termo de mesma origem, pois cidade e civitas eventualmente se confundem, mas que possui caráter mais leve, mais afeito à participação nas coisas da cidade. Não só da cidade, mas do país, pois este de cidades é formado, mas sem o caráter ufanista, do patriotismo que adora seu país independente do fato dele estar bombardeando aldeias do outro lado do planeta neste exato momento. Há coisas indefensáveis, e o patriotismo não permite relativização.
Muita gente usa ‘Ética’ como um super-poder que tudo resolveria, mudando a realidade, libertando os oprimidos, realinhando as relações humanas e ainda, de quebra, salvando o planeta. Algo parecido com o Batman. A ética como uma vestimenta de pureza, uma capa de herói, um cinto de mil-e-uma utilidades que nos protegeria dos erros (e também do julgamento) do mundo. Mas ética, etimologicamente, vem do grego ethos, e significa, em resumo, costume. A ética seria, então, o conjunto de hábitos e usos que caracterizam um grupo, uma ideologia, um país. Ora, então o que é preciso mudar?
Não é a ética que vai mudar nossos hábitos. É a mudança dos nossos hábitos e costumes que vai mudando, aos poucos, a ética do país, e construindo esse enorme edifício que é a nossa sociedade. A transformação na nossa atitude cotidiana, no modo como nos relacionamos, como trabalhamos, como produzimos, como consumimos. O modo como pensamos, planejamos, agimos e avaliamos o que foi feito. O modo como tratamos dos nossos filhos, dos filhos alheios, dos filhos que nem têm pais. O modo como compramos, como vendemos, como doamos, como respeitamos o alheio. O modo como tratamos os recursos naturais, o dinheiro, o trabalho e os sonhos. O modo como somos. O inimigo a combater somos nós mesmos, e até o Batman sabe disso. Ele combate os vilões de Gotham City, mas sabe que o mal está também dentro dele.
A corrupção parece ser outro termo recorrente, sempre que tratamos de ética. Dada a obsessão recorrente, é um termo a ser evitado, pois acaba sendo princípio e fim em si mesmo. É outro termo esvaziado de significado pela vulgarização do uso, quase uma confirmação simbólica de sua existência pelo elogio da repetição. Somos corruptos e corruptores em pequenas ações cotidianas, que não vale a pena citar, pois não é novidade: cada um sabe dos seus grandes e pequenos deslizes, ainda que finja não saber. Impostos, trânsito, dificuldades burocráticas cotidianas, muito pouco já é suficiente para despertar o corruptor adormecido em cada um de nós.
 Combater a corrupção é como cortar as unhas: se cada um cortar as suas, todos teremos unhas cortadas. Não adianta apontar o dedo, se o dedo não estiver limpo. E nossos dedos não estão limpos todo o tempo. A possibilidade de punição é o que motiva a virtude? A virtude não deve ser algo que se veste, como uma fantasia ajustada ao corpo; a virtude é um suor que deve emanar da pele, e perfumar o ar. Deve ser um sentimento que se relaciona com todos os nossos atos, mas sem apresentar-se ostensivamente. Impossível reduzir a ética a um manual de conduta. Não existe tal coisa, uma lista de procedimentos corretos para cada atividade humana, mas, insistimos tentando explicar.
Ética é decência? Dificilmente. O sentido é novamente obscurecido por julgamentos morais, e essa, como sabemos, não é a verdadeira dimensão da questão. Pessoas muito rigorosas do ponto de vista da moral podem ser completamente ignorantes em termos de ética. Ética é honestidade? Pode ser, mas não é só isso. Mas essa palavra nos parece mais resistente a uma segunda análise, algo que não se curva a tortuosas alterações de sentido.
Que se recupere então o sentido desta palavra, e se restitua a preferência pela honestidade, esse incômodo em fazer o que é errado, não porque seja uma regra, mas porque ser honesto é o melhor a ser feito, porque nossos atos têm efeitos imediatos em uma infinidade de outros eventos. Porque o mau hábito se propaga veloz, contaminando a beleza do cotidiano, sufocando as flores, impedindo que brotem, e deixa em seu caminho uma terra arrasada. Porque cada gesto desonesto, ainda que para a concretização de objetivos eventualmente nobres, ou necessários (e quem julga esse critério?) alimenta uma ética deformada. Porque temos urgências a resolver, mas temos responsabilidades com o futuro. Porque ainda existem os não-contemplados, os que aguardam a vez, os que podem não ter tempo de esperar.
Porque não se paga a vida com ouro, porque não se compra afeto com riqueza, porque não se prolonga a vida com prestígio, porque o poder se esgota em si mesmo, e o fim de tudo chega. Porque até é possível comprar sorrisos com dinheiro, mas este será uma máscara grudada sobre uma face que se esconde, e o sorriso não há mais, o sorriso será somente um cenário, um vazio aberto no rosto, e o sorriso de verdade foi morar em outro lugar.
 
Equipe responsável: Instituto Ecofuturo
Texto: Alessandro Sbampato

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Conteúdo da prova do 1º Bimestre - 2º anos Ensino Médio - 2013


Avaliação Bimestral – Conteúdo
- Artigo de opinião (Tipos de argumentos, conectivos – p. 20 apostila)
- Notícia x Reportagem
- Propaganda comercial e não comercial
- Variedades linguísticas (linguagens regionais, gírias e jargões)
- Texto literário e não literário
- Conotação e denotação
- Ambiguidade
- Características do texto teatral
- Técnicas de apresentação oral e power point
- Debate
- “Til” (José de Alencar – enredo)

segunda-feira, 25 de março de 2013

TEMA TRANSVERSAL - 1º Bimestre - Ministro
PLURALIDADE CULTURAL - ESTILOS MUSICAIS E TRIBOS URBANAS


Pluralidade Cultural é um dos temas transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/MEC). Como a sociedade brasileira é formada por diversas etnias, a pluralidade cultural é um tema especialmente importante. O desafio é respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro, incentivando o convívio dos diversos grupos e fazer dessa característica um fator de enriquecimento cultural.



"Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não só por diferentes etnias, como também por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e que a convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação.
O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade.
Nesse sentido, a escola deve ser local de aprendizagem de que as regras do espaço público permitem a coexistência, em igualdade, dos diferentes. O trabalho com Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma “Cultura da Paz”, baseada na tolerância, no respeito aos direitos humanos e na noção de cidadania compartilhada por todos os brasileiros. O aprendizado não ocorrerá por discursos, e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes” do que os outros."


TRIBOS URBANAS
As tribos urbanas, também chamadas de subculturas ou subsociedades (ou metropolitanas ou regionais são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Um exemplo conhecido de tribo urbana são os punks. Segundo Michel Maffesoli, o fenômeno das tribos urbanas se constitui nas "diversas redes, grupos de afinidades e de interesse, laços de vizinhança que estruturam nossas megalópoles. Seja ele qual for, o que está em jogo é a potência contra o poder, mesmo que aquela não possa avançar senão mascarada para não ser esmagada por este".

A expressão "tribo urbana" foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. A expressão ganha força três anos depois com a publicação do seu livro "O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa."


Para o debate:

Pensem sobre estas questões:
- Este fenômeno é um modismo, simplesmente?
- E estes jovens são assim para si ou para os outros, isto é, vestem-se e agem assim por convicção ou são assim para serem vistos e notados numa cidade/sociedade onde o anonimato é o maior medo?

- assistir aos vídeos: 
Diversidade Musical - Programa Paulada na Moleira (Cleverson Marcondes) 
Fantástico: Roqueiros x pagodeiros:  
http://www.youtube.com/watch?v=npXpbG4qe4k

- ler o seguinte  artigo: "Educação musical e cultura: singularidade e pluralidade cultural no ensino e aprendizagem da música" (Luis Ricardo Silva Queiroz)
http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista10/revista10_artigo12.pdf

domingo, 24 de março de 2013

Tema transversal - Vídeos

Queridos alunos dos 1º e 2º anos da EE Ministro Laudo Ferreira de Camargo,

Peço que assistam a esses vídeos, que farão parte do nosso debate nesse bimestre.


Diversidade Musical


http://www.youtube.com/watch?v=9a3LdgOcUDw



Fantástico- Roqueiros x Pagodeiros


http://www.youtube.com/watch?v=npXpbG4qe4k

sábado, 3 de novembro de 2012

Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro 2012


Depois de muito esforço, trabalho e dedicação, que tornaram altamente difícil a escolha dos textos finalistas, dada a excelência na qualidade de suas produções, mérito da equipe escolar e de todos os alunos empenhados nesse processo, é com muita honra que publico os textos vencedores da Etapa Escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa, realizada na EMEF Péricles Eugênio da Silva Ramos,   para as 4ª séries (Fund I) e 5ª séries (Fund II) na categoria "poema" e para as 8ª séries (Fund II) na categoria "crônica".

Com maior honra e alegria, faço saber que o texto da aluna Ingrid Spinola dos Santos (8ª A),  foi classificado na Etapa Municipal e na Etapa Estadual e está concorrendo agora na Etapa Regional. Estaremos lutando, de 05 a 07/11/2012, em Natal (RN), para estarmos na grande final!!! 
Com igual honra, informo que o texto do aluno Henrique Dias da Silva (4ª A) obteve a mesma classificação e buscaremos uma vaga na final durante durante o período de 20 a 22/11/2012, em Fortaleza (CE).

Torçam por nós!!!

Parabenizo também todos os alunos que, mesmo não tendo sido classificados, superaram-se em suas produções.



Sábado à noite é de Heliópolis

Por Ingrid Spinola dos Santos


Moro em Heliópolis e me orgulho disso, do meu bairro do sol, tem seus defeitos, como qualquer outro, mas tem também suas grandes qualidades. O "Helipa", como nós íntimos o chamamos, pode ser um bairro de tráfico, das drogas, das crianças que morrem precocemente, mas também é um bairro de povo feliz, que tem samba no pé, que sonha com a paz e luta por ela, o bairro de crianças que jogam futebol descalças na rua e de pessoas que saem de casa em busca de uma vida melhor. É um Heliópolis de brasileiros que não desistem fácil, filho do Ipiranga, terra mãe dos vencedores.
Esses dias, em um sábado, fui com meu pai comer no "Mec Favela", uma lanchonete bastante movimentada do Helipa. Era um lugar pequeno e comum, com as paredes já amarelas com o tempo, e de mesinhas de madeira. O lugar estava cheio. Meu pai e eu sentamos em uma mesa de quatro pessoas, a única que sobrara. "Uma coxinha e dois pasteis". O olhar perdido nos arredores, aguardando o pedido. Em uma mesa um pouco distante da nossa, uma mulher com três crianças bem arrumadas. Ao lado, dois homens com roupa de mecânico e duas mulheres com vestidos super colados. No resto das mesas só tinham pessoas que não chamavam muito a atenção. Assim que nosso lanche chegou, entrou na lanchonete uma moça muito bonita, mas o que mais me chamou a atenção é que ela trazia na mão um violino. Vendo os únicos lugares vazios (que eram os da nossa mesa), a moça veio diretamente em nossa direção. Em um tom educado, perguntou:
- Será que eu poderia me sentar aqui?
- Fique à vontade! - respondeu meu pai.
Assim ela se sentou... e comecei a observá-la. Ela era morena e tinha os cabelos lisos e brilhantes em um corte chanel, era alta, esguia, vestia um jeans com uma camiseta branca. Logo depois de um chute no estilo "acorda, menina!", parei de encarar a moça e olhei o seu violino, que ela tinha colocado delicadamente na cadeira da frente. Ele era lindo, nunca tinha visto um de perto! Ela percebeu meu olhar e perguntou:
- Sabe tocar?
- Eu... eu não! - disse sem jeito -Mas você sabe. Não era uma pergunta, era uma afirmação. Deduzi isso porque ninguém "normal" sai andando com um violino na mão sendo que não sabe tocar. Ela sorriu gentilmente e fez que sim com a cabeça. Tique que sorrir também. Então ela disse:
- Conhece o Baccarelli?
- Não! - meu pai respondeu se intrometendo.
- Sim! - respondi, confundindo a moça. O Baccarelli tinha se apresentado uma vez na minha escola, um coral de crianças, e foi lindo. Então comecei a lembrar do dia e das músicas alegres que as crianças tinham cantado. E interrompendo os meus pensamentos, a moça disse:
- O Baccarelli é uma instituição que foi criada em 2005. É uma escola de música que foi criada pelo maestro Silvio Baccarelli. A escola tem mais de 1.100 alunos - e parou para agradecer seu lanche - os mais velhos tocam instrumentos e os mais novos treinam músicas no coral.
- Ah, é claro, já ouvi falar! - disse meu pai, surpreendido.
- O Baccarelli não é só uma ONG, é muito mais que isso! É a vitória de muita gente, a prova de que na favela se tem muito mais do que gente drogada. O Baccarelli tira crianças das ruas para mostrar-lhes a beleza da música... e em suas notas, o caminho certo a seguir.
Assim todos nós ficamos em silêncio para a moça comer. Vi que meu pai tinha encerrado o assunto, mas eu sou uma pessoa curiosa e quis saber mais. Então perguntei:
- Já tocou em algum lugar que jamais irá se esquecer? - disse, levando outro chute de reprovação.
- Sim - respondeu a moça, sorrindo. Vi nos seus olhos o orgulho. - Na Sala São Paulo, em um sábado à noite...
- Está brincando! - disse meu pai - Essa é uma das melhores do país! Ainda mais em um sábado! Como foi?
- Sim, é sim. Foi mágico, sonho com ela toda noite - respondeu - O melhor foi voltar pra casa e ver o sorriso de todos, o rosto cheio de orgulho. Saímos da realidade, meu pai e eu, pensando em como pessoas que eram excluídas da sociedade só por viver em uma favela podiam ser aplaudidas pelas mesmas pessoas que diziam que não éramos capazes... em pé ainda! E com lágrimas no rosto!
- Cadê a moça? - perguntei ao meu pai.
- Não sei, sumiu! Mas o fato é que sábado à noite é de Heliópolis! É nosso!


Heliópolis: o bairro do sol

Por Henrique Dias da Silva

O lugar onde vivo fica no Ipiranga
Onde "o sol da liberdade em raios fúlgidos
brilhou no céu da pátria nesse instante"
Isso eu descobri em um livro que estava na estante!
Pra quem está de fora o meu bairro não é muito amado,
Também não é bem falado,
Quando se fala em Nova Heliópolis
Todo mundo fica abismado!
Pensam logo em tráfico de drogas, funk, RAP,
Ataques do PCC e polícia com cacetete!
Aqui tem muita violência e também pessoa boas que com isso não tem nada,
Por isso todo ano fazemos pela Paz uma Caminhada.
É homenagem pra uma menina (se chamava Leonarda)
que com cinco tiros na porta da escola foi assassinada!
Mas a beleza existe pra quem consegue ver,
Pode ser eu e pode ser você!
Quando abro a minha janela
vejo o colorido da favela,
formando um mosaico que poderia estar numa tela
em um museu de arte moderna!
Uma imagem ainda mais bela
é formada pelos meninos que jogam bola na viela
É pra lá que eu vou,
formar meu time e fazer gol!
Aqui também tem o Instituto Baccarelli
Joia da nossa comunidade,
cujo coração é regido
por Beethoven, Mozart e Wagner!
É nessa orquestra em que toco,
lá tem piano, viola e violino
mas meu instrumento é o contra-baixo,
minha paixão de menino!
E entre tantos "et ceteras"
também tem grandes festas
No Ano Novo é uma maravilha
Todos comemorando com suas famílias!
Em dia de jogo é pior...
quero dizer, é muito melhor!
Fogos de artifícios para todos os lados
Fogos amarelos, azuis, vermelhos e dourados
Nessas horas, em meio a esse rol
É que lembro do significado do lugar onde moro:
Heliópolis, o bairro do sol!
É tão sensacional!
O lugar onde moro
Está no hino nacional!




segunda-feira, 23 de julho de 2012

FODA-SE


( Millor Fernandes )

O nível de stress de uma pessoa
é inversamente proporcional
a quantidade de
foda-se!
que ela fala.

Existe algo mais libertário
do que o conceito do
foda-se!?
O foda-se!
aumenta minha auto-estima,
me torna uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Me liberta.
- Não quer sair comigo ?
Então foda-se!

- Vai querer decidir essa merda
sozinho (a) mesmo?
Então foda-se!.

O direito ao foda-se!
deveria estar assegurado
na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso.
São recursos extremamente válidos e criativos
para prover nosso vocabulário
de expressões que traduzem
com a maior fidelidade
nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar,
será esse Português Vulgar
que vingará plenamente um dia.

Pra caralho, por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a idéia
de muita quantidade do que
Prá caralho?

Pra caralho
tende ao infinito,
é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas
pra caralho,
o Sol é quente
prá caralho,
o universo é antigo
pra caralho,
eu gosto de cerveja
pra caralho,
entende?

No gênero do Prá caralho,
mas, no caso, expressando
a mais absoluta negação,
está o famoso
Nem fodendo!.

O Não, não é não! e tampouco
o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade. Não,
absolutamente não! o substituem.
O Nem fodendo
é irretorquível, e liquida o assunto.

Te libera, com a consciência tranqüila,
para outras atividades
de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos
te atormenta pedindo o carro
pra ir surfar no litoral?
Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo:
Marquinhos presta atenção, filho querido,
Nem fodendo!.

O impertinente se manca na hora!

Por sua vez,
o porra nenhuma!
atendeu tão plenamente as situações
onde nosso ego exigia
não só a definição de uma negação,
mas também o justo escárnio
contra descarados blefes,
que hoje é totalmente impossível imaginar
que possamos viver sem ele
em nosso cotidiano profissional:
ele redigiu aquele relatório sozinho
porra nenhuma!.

O porra nenhuma,
como vocês podem ver,
nos provê sensações
de incrível bem estar interior.
É como se estivéssemos
fazendo a tardia e justa denúncia pública
de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos
aspone, chepone, repone
e mais recentemente, o prepone
- presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um
Puta-que-pariu!,
ou seu correlato
Puta-que-o-pariu!,
falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer
puta-que-o-pariu!
Dito assim te coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios têm o devido tempo e clima
para se reorganizar e sacar a atitude
que lhe permitirá dar um merecido troco
ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso
vai tomar no cu!?
E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai
tomar no olho do seu cu!.

Você já imaginou o bem
que alguém faz a si próprio
e aos seus quando,
passado o limite do suportável,
se dirige ao canalha de seu interlocutor
e solta:

Chega!
Vai tomar no olho do seu cu!.
Pronto,
você retomou as rédeas de sua vida,
sua auto-estima.
Desabotoa a camisa e sai a rua,
vento batendo na face,
olhar firme, cabeça erguida,
um delicioso sorriso de vitória
e renovado amor íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto
não registrar aqui
a expressão de maior poder de definição
do Português Vulgar:
Fodeu!.
E sua derivação mais avassaladora ainda:
Fodeu de vez!.

Você conhece definição mais exata,
pungente e arrasadora
para uma situação
que atingiu o grau máximo imaginável
de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida
insere seu autor
em todo um providencial contexto interior
de alerta e autodefesa.
Algo assim como quando você está dirigindo bêbado,
sem documentos do carro
e sem carteira de habilitação
e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar:
O que você fala?
Fodeu de vez!.

Liberdade, igualdade, fraternidade e
foda-se!!!